
“Este artigo está muito pesado”. Era a segunda vez, somente naquele mês de setembro 1972, que Edson Prata se manifestava sobre a matéria por mim redigida, abordando o assunto político do momento: as eleições municipais. Como fiz da primeira vez que isto aconteceu, embolei o artigo e o joguei no lixo. Agradeci e falei para ele que só de escrever, já havia me desabafado e não haveria mais razão para publicá-lo.
Assim era a rotina na redação do Jornal da Manhã que foi criado naquele ano, inicialmente para dar suporte político para a eleição de Hugo Rodrigues da Cunha. Joaquim dos Santos Martins era o presidente da empresa, Gilberto Rezende, diretor administrativo e Edson Prata, tesoureiro.

Esta eleição era muito importante pois iria colocar Uberaba no caminho da industrialização. O adversário, Fúlvio Fontoura, uma das figuras mais queridas de Uberaba, contava com a cobertura do Jornal Lavoura e Comércio. Daí as constantes trocas de farpas entre jornalistas dos dois diários.
A vivência e a experiência jornalística faziam de Edson Prata não somente um diretor com os mesmos direitos dos demais. Suas opiniões eram acatadas sem discussões. Para além da grande amizade, da admiração e do companheirismo, existia o respeito pela reconhecida e invejada cultura jurídica.

A redação do jornal sempre recebia visita de amigos e, principalmente, de políticos envolvidos na campanha. O trabalho começava às 19 horas e fechava para impressão às 23 horas. Uma das constantes visitas era da filha do Edson Prata, a Lídia, uma linda garota irrequieta que gostava de mexer nos teclados das máquinas, ensaiando uma vocação. De vez em quando se ouvia a voz do pai, “Lídia, deixa ele trabalhar”

Com os objetivos alcançados pela vitória de seus candidatos em duas eleições, Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1977) e Silvério Cartafina Filho (1977/1982), transferimos para o Edson Prata, em janeiro de 1983, dez anos após de uma fraternal convivência, o controle acionário da empresa na certeza de que uma nova linha de conduta seria implantada na empresa.
Edson Prata modificou a linha editorial do Jornal da Manhã direcionando-a para a área de informação sem cor partidária, imprimindo uma administração diferenciada, transformando-o no maior veículo de comunicação deste Brasil Central.

Em sua vida Edson Prata sempre despontou como pioneiro em diversos projetos de interesse comunitário. César Vanucci, que por muitos anos foi Editor Chefe do Jornal Correio Católico, é o único remanescente do grupo fundador da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Em seu relato para o Diário do Comércio, diz que foi Edson Gonçalves Prata o principal artífice da história desta Instituição que, no dia 15 de novembro de 2021, completou 59 anos.

Era no jornal Correio Católico que Edson Prata publicava, em Suplementos Literários, seus artigos sobre personagens de Machado de Assis e que sempre foram muito apreciados.
Tendo aderido com entusiasmo à ideia de constituição de uma Academia de Letras, César participou de diversas reuniões com Edson Prata, destinadas a formatar a entidade e colaborar na indicação de nomes para compor o quadro de fundadores.

Os primeiros convidados foram o Monsenhor Juvenal Arduini, Padre Antônio Thomaz Fialho, Augusto Afonso Neto, Padre Tomaz de Aquino Prata. O grupo encontrou na pessoa de José Mendonça, o nome ideal para comandar o processo de estruturação. Nasceu assim a ALTM – Academia de Letras do Triângulo Mineiro, no ano de 1962.
Edson Prata, mentor da criação da ALTM foi o seu 2º presidente, ocupando a Cadeira de n. 27. Foi na Academia de Letras que Edson Prata contribuiu para o resgate da história de Uberaba através das publicações dos livros de Hidelbrando Pontes, Borges Sampaio e José Mendonça.
Criou e dirigiu em 1971, o primeiro número da Revista da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, denominada a partir do 02 de Convergência, conforme relata Guido Bilharinho.

Edson Gonçalves Prata nasceu em 1927 na cidade de Conceição das Alagoas. Com a a morte do pai, aos cinco anos mudou-se com sua família para Uberaba.
Fez Curso Técnico em Contabilidade na Escola de Comércio José Bonifácio. Após passagem como funcionário no Banco do Triângulo Mineiro, prestou concurso para o Banco do Brasil. Relata Guido Bilharinho que “ no concurso nacional a que se submeteu para o Banco do Brasil, passou em primeiro lugar, nele trabalhando até se aposentar”.
Em 1955 graduou-se em Direito, primeira turma, na recém fundada Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro (UNIUBE).

Nas declarações de Gilberto Vasconcelos para Décio Bragança, declara o porquê de sua admiração à Edson Prata – “Pela abnegação e tenacidade no estudo e no ensinamento do Direito. Pelo grande ser humano. Pela importância em minha vida”.
Já para Aluisio Inácio de Oliveira, Edson Prata foi “um Advogado de escola, um jurista amado e incentivador dos jovens advogados”.

Para Guido Bilharinho relata em seu livro “Personalidades de Uberaba” que Edson Prata “No exercício da advocacia, destacou-se como um dos profissionais mais competentes, organizados e ativos do todo o Brasil Central”.
Relata ainda Guido Bilharinho que “Edson Prata foi um dos convidados de Mário Palmério para lecionar português no primeiro período de Comunicação Social e de Direito, assumindo posteriormente a ministração de disciplina jurídica, tendo lecionado também no curso de pós-graduação em processo civil da Universidade Federal de Uberlândia”.
Lecionou também nas Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino.

Edson Prata fundou o Instituto dos Advogados de Minas Gerais, do qual foi o primeiro presidente. Patrono da Academia Brasileira de Direito Processual, ocupou a cadeira 08 e foi redator da Revista Brasileira de Direito Processual. Em 1970, fundou a empresa Editora Vitória.
Edson Prata, além de bancário, foi professor, empresário, advogado, contista, conferencista, jornalista, crítico literário e escritor e, participante de várias Entidades como o Rotary Clube de Uberaba, OAB-Ordem dos Advogados do Brasil, Instituto dos Advogados do Triângulo Mineiro, da 1ª. Subseção de Uberaba do Instituto dos Advogados de Minas Gerais, por ele fundada.

Em sua biografia no livro dos 200 anos de Uberaba, publicado pelo Arquivo Público, pode-se ler que “Edson Prata foi um autêntico homem de letras que se destacou pela pureza de estilo, pela beleza de imagens, pelas admiráveis descrições e pela segurança das análises psicológicas. O seu livro Contos Miúdos revela as qualidades de prosador”.

De conformidade com Guido Bilharinho, do seu grande legado de obras literárias e jurídicas podem ser destacadas – Literárias – “Contos Miúdos”, 1958, “Estórias de Gente Mineira”, 1972, “Dom Casmurro e o Pessimismo de Machado de Assis”, 1964, “Machado de Assis e o “Direito do Trabalho”, 1967”, “Estudos de Literatura do Triângulo Mineiro”, 1967 e “Machado de Assis, o Homem e a Obra”, 1968.
Jurídicas – “Estudos de Direito Processual Civil”, 1974, “Desquite Amigável”, 1976, “Comentários ao Código de Processo Civil”, 1978, “Jurisdição Voluntária”, 1979, “A Revelia no Direito Brasileiro”, 1981, “Petição Inicial e Seus Requisitos”, 1981, “Da Contestação”, 1985, “História do Processo Civil”. 1987, “Repertório de Jurisprudência do Código de Processo Civil”, 1977/78 e “Processo de Conhecimento, 1989.
Edson Prata foi integrante do núcleo da denominada Escola Processual do Triângulo, da qual faziam parte advogados e juízes, entre eles Ronaldo Benedito Cunha Campos, Humberto Teodoro, Jaci de Assis, Virgílio Machado Alvim e Ernane Fidélis dos Santos.

O trabalho deste grupo era publicado na “Revista Brasileira de Direito Processual” de 1975 a 1988, sendo considerado em sua primeira fase, o mais importante periódico do gênero no Brasil.
Edson Prata foi também o fundador em 1973 do escritório de advocacia “Claudiovir Delfino Advogados Associados”, junto com José Raimundo Jardim Alves Pinto e Claudiovir Delfino.
Edson Prata, filho de Ranulfo Gonçalves Prata e Marieta de Sene Prata, faleceu em 16 de setembro de 1990, aos 63 anos de idade, deixando viúva Aparecida Damas de Oliveira Prata e a filha única, Lidia Maria Prata.
Em homenagem à Edson Prata, a 14ª Subseção da OAB/MG de Uberaba, a Escola Superior de Advocacia da OAB de Minas Gerais e a1ª Seção do Instituto dos Advogados de Minas Gerais de Uberaba, instituíram em sua homenagem, a “Comenda Edson Prata”. Fui um dos homenageados com essa honrosa Comenda.
Edson Prata que tinha uma invulgar capacidade de trabalho, um reconhecido mestre de vasta cultura, deixou exemplos de pioneirismo, de humanismo, de correção e de amor à sua cidade. Deixou saudades para sua família, para os seus amigos, parceiros e um rastro de admiração para todos aqueles que tiveram o privilégio de conhece-lo.
“Edson Prata” é nome de rua no Parque Mirantes e do Condomínio Comercial Boulevard Mall.

Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras – Ex-Presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. Ex-diretor do Jornal da Manhã.
Fontes:
Livro Personalidades Uberabenses – Guido Bilharinho.
História Viva de Uberaba – Décio Bragança.
Uberaba 200 Anos – Arquivo Público de Uberaba.
Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
César Vanucci – Membro da Academia de Letras do Município de Belo Horizonte e de Uberaba.
Jornal da Manhã.