HISTÓRIA DAS USINAS HIDROELÉTRICAS DE UBERABA. 

USINA MONJOLO. 

Desde a sua fundação no início da década de 1810, Uberaba vivia provavelmente sob a iluminação das velhas lamparinas. Em “Uberaba Fotos” há descrição de que as ruas de Uberaba eram iluminadas pelos românticos lampiões à base de querosene desde 1885.  

CACHOEIRA DE MONJOLO

Somente em 1903 foi criada uma organização em Uberaba disposta a dotar a cidade de energia elétrica. Fundada em 1903 a empresa Ferreira, Caldeira & Cia composta pelos sócios José de Oliveira Ferreira, Manuel Alves Caldeira Júnior, Tomás Pimentel de Ulhôa, Artur Batista Machado, Silvério José Bernardes, Getúlio Guaritá, Gabriel Orlando Teixeira Junqueira, Geraldino Rodrigues da Cunha, Felipe Achê e Pedro Floro Gonçalves dos Anjos.  

Com equipamentos adquiridos na Alemanha através da empresa Guinle Ltda., montaram no Rio Uberaba, na Cachoeira Monjolo, uma hidroelétrica com capacidade inicial de 400 HP, ou seja, duas turbinas com 200 cavalos cada uma. A linha de transmissão da usina percorria uma extensão de 30 km. A administração foi entregue a um dos sócios, engenheiro Silvério José Bernardes que fez uma boa administração. 

JOSÉ DE OLIVEIRA FERREIRA, SÓCIO DA EMPRESA FERREIRA CALDEIRA & CIA

Há que se ressaltar o pioneirismo de Uberaba no setor de aproveitamento de energia hidroelétrica. Foi a terceira cidade do Brasil a instalar uma usina elétrica, antes mesmo do Rio de Janeiro. A primeira foi Juiz de Fora. O técnico de sobrenome Finholdt que veio da Alemanha para a montagem, fincou raízes em Uberaba. 

Dez anos após a inauguração da Usina Monjolos, em 1915, a cidade com cerca de 10.000 habitantes já estava deficitária de energia elétrica. A Usina Monjolo que iniciou a base do desenvolvimento de Uberaba já não mais tinha condições de atender suas necessidades o que levou o Prefeito Silvério José Bernardes (1912/1915) a adquirir na França um motor termoelétrico com capacidade de 200 HP. Posteriormente foi necessário instalar outro motor de 350HP. 

Mesmo assim a energia elétrica era muito aquém da demanda. Era necessário que se construísse uma usina com maior capacidade como conta em sua dissertação de 2018, Thiago Resende Cunha, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 

No ano de 1930 após Getúlio Vargas assumir a presidência, foi nomeado prefeito de Uberaba o engenheiro Guilherme de Oliveira Ferreira. Uma de suas primeiras ações foi exigir da empresa Ferreira Caldeira & Cia a ampliação do serviço de energia. Foi dada como uma das alternativas propostas pela empresa aproveitar a queda d’água da cachoeira Pai Joaquim, localizada na divisa entre os municípios de Sacramento e Santa Juliana, sendo traçada uma linha de transmissão até a cidade de Uberaba.  

A ampliação esbarrava em exigências contidas no Código de Águas de 1934 motivo da recusa da empresa Ferreira, Caldeira & Cia de fazer novos investimentos para ampliação ou construção de uma nova usina.  

A saída encontrada para contornar essas dificuldades e solucionar a crise energética do período seria a prefeitura de Uberaba assumir o controle da usina.  

A empresa Ferreira Caldeira & Cia. concordou com o propósito do Prefeito e, no ano de 1935, foi montada uma comissão para que pudessem avaliar o acervo da usina.  

Foram escolhidos os peritos: pela empresa, Engenheiro Alberto de Oliveira Ferreira, filho do Dr. José Ferreira; pela Prefeitura, Engenheiro Henrique Betex, ex-gerente da Companhia Siemens de Eletricidade de São Paulo e o Engenheiro Francisco Silva Serra Negra, como desempatador. À Tomás Bawden, além de representante da Prefeitura de Uberaba, lhe foi atribuído o papel de colaborar, providenciando os meios necessários para que os peritos pudessem desempenhar essa função.  

ABEL REIS

As negociações duraram cinco anos, uma vez que a prefeitura de Uberaba não dispunha de recursos para adquirir a empresa. Coube ao Estado de Minas Gerais a responsabilidade pela aquisição de todos os bens da usina da Ferreira Caldeira & Cia, até que a prefeitura tivesse condições de assumir sua encampação. (BAWDEN, 1968). 

Na mesma época o Estado de Minas Gerais, governo Benedito Valadares, adquiriu a área da Cachoeira Pai Joaquim no rio Araguari e os terrenos dos perímetros que totalizaram 35,70,66 hectares. 

A responsabilidade pela administração da usina Pai Joaquim foi assumida pelo Serviço de Força, Luz e Águas do Estado de Minas Gerais sob o comando do engenheiro Tomás Bawden que permaneceu no cargo por 25 anos até quando a usina foi repassada à CEMIG no ano de 1960. 

A Hidroelétrica da Cachoeira de Monjolo foi a primeira e única usina a forneceu energia para a cidade de 1905 a 1941 até quando entrou em funcionamento a Usina Pai Joaquim. Depois de 1970 sua produção foi voltada para Conceição das Alagoas e Veríssimo. 

Desativada há muitos anos, o acervo da usina está em ruinas. A Câmara Municipal de Uberaba na gestão de Luiz Dutra e o Conphau se juntaram com o propósito de fazer o seu tombamento para resgatar a história do pioneirismo de Uberaba. 

USINA PAI JOAQUIM 

BENEDITO VALADARES EX-GOVERNADOR DE MINAS GERAIS QUE ADQUIRIU A ÁREA DA CACHOEIRA PAI JOAQUIM

Energia elétrica é base indispensável para o desenvolvimento econômico de qualquer cidade. Uma das primeiras cidades do Brasil a contar com energia elétrica de inciativa privada, Uberaba passou a ser polo de atração de pequenas indústrias principalmente de imigrantes que aqui aportaram. A partir de 1915, após 10 anos da instalação da Usina Monjolo, a cidade já exigia mais disponibilidade de energia, atendida em parte com a aquisição de dois grandes motores que geravam mais energia do que a própria Usina. Todavia, a partir de 1920 os problemas foram se agravando.  

Os primeiros dirigentes da empresa responsável pela Usina Monjolo que foi acampada pelo Estado e logo passou para o Departamento de Águas e Energia Elétrica de Minas Gerais- D.A.E.E. MG entre os anos de 1935 a 1937, foram os Engenheiros: José Moreira, Fulgêncio de Paula e Paulo Costa (BAWDEN, 1968). 

No ano de 1936, o Estado designou o engenheiro Bento Paixão chefe da empresa Bento Paixão & Comp., responsável pelos serviços de eletricidade do município de São João D’l Rei para realizar estudos na cachoeira Pai Joaquim (Jornal Lavoura e Comércio, 1936). 

GETÚLIO VARGAS

Afinal o rio Araguari, após os estudos da geologia da bacia hidrográfica se constatou que era uma das principais fontes de recursos hídricos do Estado de Minas Gerais com 475 km de extensão (21.856 km2) e, nascendo na Serra da Canastra percorre cerca de 20 municípios e figura com um dos grandes celeiros do estado para implantação de usinas hidroelétricas. 

A aquisição dos terrenos necessários para a construção da usina Pai Joaquim ficou a cargo do Engenheiro Honório Paiva Abreu a quem foi atribuída também a responsabilidade pela construção e cuja ordem de serviço foi dada pelo Estado em 1939. 

Decorrido dois anos, em maio de 1941, a Usina Pai Joaquim, com duas unidades de 1.470 KW, foi inaugurada com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, do Governador de Minas Gerais, Benedito Valadares e contou ainda com a presença do Secretário Estadual da Agricultura, Indústria e Comércio, Israel Pinheiro da Silva, do Secretário Estadual da Viação e Obras Públicas, Odilon Dias Pereira, do Prefeito de Uberaba, Whady José Nassif, vários prefeitos da região e centenas de convidados vinculados à política e às entidades classistas. 

CACHOEIRA DA USINA PAI JOAQUIM

O nome do empreendimento era Governador Valadares, porém a comunidade que vivia nas fazendas em que fora construída sempre se remetia a este lugar como Pai Joaquim (Um antigo balseiro que fazia a travessia do rio). 

Uma curiosidade – Contam antigos moradores que o Presidente Getúlio Vargas com seus fiéis escudeiros, entre eles o lendário Gregório e o Governador Benedito Valadares ficaram hospedados em uma fazenda próxima da usina e que, por cinco dias, fizeram churrascos e caçaram perdizes. Afinal hidroelétricas naquele tempo era coisa rara. Havia razões realmente para grandes comemorações. 

Inicialmente o fornecimento da energia produzida por essa usina seria destinado para Uberaba, o Barreiro (Araxá), Ibiá, Patrocínio e já projetado para futura interligação com a Usina dos Peixotos e com a Usina dos Macacos para abastecer Araxá, Perdizes, Zelândia, Almeida Campos, Santa Juliana e Nova Ponte. 

Uma nova história estava para começar. Depois de tantas privações, um novo ciclo de desenvolvimento é vislumbrado. Finalmente tudo estava a indicar que as dificuldades seriam coisas do passado e que a cidade entraria em novo ritmo de crescimento com o farto fornecimento de energia produzida pela Usina Pai Joaquim. 

CEMIG 

A Usina Pai Joaquim passou a abastecer Uberaba e as demais cidades interligadas, em ritmo satisfatório de 1941 até 1948 quando voltaram as dificuldades por insuficiência no abastecimento de energia. 

A partir do início da década de 1950 a situação foi degringolando ao ponto de se pedir a exclusão de Ibiá do circuito por haver cachoeiras perto da cidade que poderiam abastecê-la. Foi discutida a possibilidade de importar novas turbinas de grande capacidade que foi descartada pelo baixo volume de água, naquela época, do rio Araguari. 

ENGENHEIRO LUCAS LOPES

Para se dar uma ideia da situação da cidade, no início da década de 1950, o diretor da ACIU João Guido revelou que cerca de 50% das casas não possuíam instalação elétrica. 

Coincidiu esta situação com o término da segunda grande guerra (1939/1945), onde a crise era mundial. Faltavam alimentos, combustíveis (usava-se gasogênio) e energia elétrica.  

Em 1949, Milton Campos (1947/1951), governador do Estado de Minas Gerais, preocupado com a situação da carência de energia, faz um convênio com a Cia. Brasileira de Eletrificação de onde surge o PEMG-Plano de Eletrificação de Minas Gerais que foi elaborado em 6 meses, coordenado pelo engenheiro Lucas Lopes onde ficou estabelecido os fundamentos básicos da política de eletrificação de Minas Gerais. 

JUSCELINO KUBITSCHEK

 O Governador Juscelino Kubitschek (1951/1955), pelo decreto 3.710 de 20/02/1952, aproveitando o PEMG, criou a empresa Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A., transferiu a esta as ações estatais dos sistemas regionais e ainda incorporou à empresa o Sistema de Gafanhoto. 

HELMUTH DORNFELD EX-PRESIDENTE DA ACIU

Em 02 de maio de 1952 a CEMIG realiza uma assembleia para aprovação de seus estatutos e é constituída em 22 de maio de 1952 como empresa de capital misto. Através dessa empresa é que o estado de Minas Gerais começa a levantar os pontos de estrangulamento que estavam provocando a crise energética e inicia a busca de soluções.  

A criação da CEMIG trouxe divisão de opiniões em diversas cidades do Triângulo Mineiro. Algumas entidades classistas e um grupo de empresários locais tinham a convicção de que poderiam resolver esta questão com a implantação de uma empresa de cunho regional. 

AURÉLIO LUIZ DA COSTA

A decisão da CEMIG de incorporar a Usina Pai Joaquim em seu sistema, provocou insatisfação de parte da população das cidades da região.  

A Sociedade dos Engenheiros de Uberaba, presidida pelo engenheiro Thomaz Bawden constituiu uma comissão formada por Abel Reis, Ewaldo Brasil e Alberto de Oliveira Ferreira que deu um parecer em que conclui que a melhor solução seria a constituição de uma grande empresa regional com capital dos empresários do Triângulo Mineiro, suficiente e desvinculada do governo estadual para aproveitamento do rio Araguari de vez que apenas 1% do potencial energético havia sido utilizado. Citou ainda que o “Triângulo Mineiro era a maior concentração do maior potencial hidroelétrico do Brasil, lembrando Cachoeira Dourada, Marimbondos, Canal São Simão, Usina dos Peixotos e muitas outras”, declaração publicada em 1955 que veio ser confirmada 60 anos após.  

JOAQUIM ROBERTO LEÃO BORGES

Para reforçar essa posição e motivar a população, a Sociedade dos Engenheiros mandou construir uma torre de energia e a colocou na Praça Rui Barbosa onde ficou exposta por um bom tempo. 

A ACIU e as demais entidades de Uberaba discordaram dessa posição, preferindo ficar ao lado do governo estadual que, através da CEMIG, tinha condições de recursos para solucionar nossos problemas energéticos. Uma decisão acertada. Trocaram um sonho por uma realidade.  

PADRE ANTÔNIO THOMAZ FIALHO

Em 1960, para colocar um ponto final nessa questão, a ACIU, gestão de Helmut Dornfeld, liderou as forças vivas da comunidade, através da UNASBA, integrada por Padre Antônio Fialho, Ronaldo Benedito Cunha Campos, Aurélio Luiz da Costa, Joaquim Roberto Leão Borges, Paulo Vicente de Souza Lima, Nicolau Laterza e outros, para o levantamento de 25 milhões de cruzeiros para compra de ações exigidos para que Uberaba se tornasse acionista da CEMIG, empresa que garantia investir mais de 400 milhões de cruzeiros em nossa região. 

Em 1955 a CEMIG já havia investido 100 milhões de cruzeiros para dobrar a capacidade da Usina Pai Joaquim o que trouxe uma grande melhoria no abastecimento de energia elétrica na cidade. 

Feito os investimentos, a CEMIG cumpriu seu compromisso e hoje há abundância de energia, suficiente para atender todas as necessidades presentes e futuras de Uberaba.  

RONALDO BENEDITO CUNHA CAMPOS

Decorrido 70 anos de sua criação a CEMIG atua em 24 estados e no Distrito Federal, em 774 municípios e distribui energia para uma base de quase 9 milhões de consumidores. É a maior distribuidora de energia elétrica do Brasil em extensão de rede, com mais de 415 subestações. No estado de Minas Gerais, a CEMIG é responsável por 96% do abastecimento de energia elétrica. 

CEMIG

Gilberto Rezende, Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Presidente da Associação Cultural Casa do Folclore. Ex-presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. 

Fontes – ACIU – Arquivo Público de Uberaba. – Thiago Resende Cunha – Dissertação – VIDA E MORTE DA VILA OPERADORA PAI JOAQUIM